Alguém vai ter que dizer isso em público. Então lá vai: "Perde, Timão". Obviamente, não sou corintiano. Muito pelo contrário, hehe. Então me deixa torcer contra, urubuzar, corvar (Xico Sá), trollar (verbo muito usado pela nova geração internética).
Há tempos querem acabar com a graça do futebol. Não tem mais bandeira, não tem batuque, não tem cerveja. E tem a Globo falando que o "Corinthians é Brasil na Libertadores", por mais que a gente saiba que não é, eles insistem. O Corinthians é Corinthians na Libertadores.
O vizinho de coluna Juca Kfouri publicou em seu blog um "novo censo" do país. O povo brasileiro está formado por 30 milhões de corintianos e 120 milhões de "argentinos". Se vira, Timão. A glória vai ser toda sua. O fracasso, também.
Há 12 anos, quando o mesmo Boca fez a final da Libertadores com o Palmeiras, os 30 milhões de fiéis eram "argentinos". Até camisa meio a meio foi confeccionada aos montes.
Hoje é normal corintiano dizer, na pressão absurda do título inédito e com a diretamente proporcional secação que sofrem, para os adversários irem se preocupar com os seus times. Bobagem.
Viva a sacanagem no trabalho, na escola, no e-mail, no SMS, no Twitter. É ela que move o futebol. Sou de São Paulo, mais ainda da zona leste, bairro do Corinthians. Muitos dos meus bons amigos são corintianos. Muitos dos meus primos também. O meu pai é corintiano. Entende que eu não desejo a morte de nenhum deles? Mas não me peça para ficar a favor ou mesmo neutro num jogo como esse.
Até pelos meus queridos acima, não seria a pior coisa do mundo se o Timão acabasse logo com esse sofrimento de Libertadores. Eles ficariam felizes e eu, por tabela, acho, sei lá, um pouco. Isso apesar de meu amigo Eduardo guardar até hoje uma faixa de campeão de 1986 da Inter de Limeira, quando o time do interior ganhou do Palmeiras. O Eduardo FOI ao jogo secar. Maldito.
Mas, para o futebol, o Corinthians ganhar o título seria mais uma piada a acabar. Que chato!
Assim que o Timão passou pelo Santos e se credenciou às finais, um dos "trending topics" do Twitter foi "São Caetano". Não que o Azulão tenha feito algo naquela noite nervosa de Libertadores e Copa do Brasil. Eram os rivais parabenizando os corintianos sobre o feito histórico alvinegro (101 anos) de ter se igualado ao São Caetano (22 anos) e chegado a uma final sul-americana. Era o que restava aos "anticorintianos" naquele momento.
O negócio é que corintianos e os "anti" estão juntos nesse jogo de amanhã. Não do mesmo lado. Mas que graça teria se estivessem?
Lúcio Ribeiro é jornalista de cultura pop, editor do blog Popload, no UOL, colaborador da "Ilustrada", mas acha que no fim gosta mais de futebol do que de música. Na versão impressa de "Esporte", escreve às terças sobre "qualquer assunto bom".